3 de nov. de 2008

Coleção de Simpatias pra Asma

Sou asmático, já faz um bom tempo, e minha asma é considerada severa e de difícil manejo, pelos médicos, ou seja é asma da braba mesmo! E tão complicada é minha situação que já percorri vários médicos, já usei várias medicações e estive em vários hospitais para tentar acabar com a maldita falta de ar. Nada, mas nada mesmo resolveu minha situação, ou seja, curar minha doença, então resolvi apelar para as terapias alternativas, ai, então, é que começou minha via-crúcis pelo mundo da obscuridade. Primeiro fiz uma tour em terreiros, caboclos, pais de santo e benzedeiras, depois fui pras ervas, “beberragens” e “garrafadas” que me indicavam pelo caminho.
Qualquer um tinha autoridade sobre minha vontade e me receitavam de tudo que é possível imaginar como, por exemplo, chá de lesma, feijoada de caruncho, chá de maconha, coração de bananeira, e por ai vai. Como estava nas mãos das pessoas tomei coisas que até hoje não sei o que era (não podia) desconfio de alguma coisa com bosta de cavalo, ahrg, me arrepio só de imaginar, se pelo menos alguma coisa funcionasse, só que nada adiantou!
Fiquei desencantado com o conhecimento humano, pois uma simples falta de ar tinha me vencido e era ponto pacífico, pois não havia cura na medicina e nem na “pajelança”, a última esperança dos aflitos, só havia feito papel de brocoió, ou cobaia de malucos!
O tempo foi passando e a resignação tomando conta do meu coração, por que lutar contra um adversário que não pode ser vencido, quais as lições que poderia tirar daquela experiência de conviver com sérias limitações físicas, sim sérias porque só quem tem asma conhece o desespero de ser abruptamente acometido por uma dispnéia. Normalmente inicia por uma crise de espirros, depois tosse seca e por fim uma sensação de se estar estufado, cheio de ar inútil, por não poder ser respirado. É uma sensação assustadora! Se o camarada é meio frouxo das pernas é capaz de “morrer de susto”.
Mas como disse o velho Miguel de Cervantes Savedra: “aquilo que corrompe a melhor corda de cânhamo e corrói a espada do melhor aço, também fortalece o braço”, aprendi a tirar proveito da minha deficiência, fui descobrindo, com o tempo que o meu temperamento estava mudando, eu que era irritadiço, neurastênico e super-ansioso, estava me tornando um cara mais tranqüilo, mais sereno nas atitudes do dia-a -dia e até nos momentos de tensão conseguia manter a calma, ou na pior das hipóteses controlava a ira em situações enfarruscadas.
Estava mudando, para melhor, e a asma era a responsável pela mudança, não pairava a menor dúvida sobre a melhoria na qualidade de vida que eu estava ganhando de contrapartida, e a doença outrora tão amaldiçoada apresentava, agora, a sua face abençoada e benevolente. Não podia fazer esforços demasiados, mas quem quer fazer grandes esforços? Não podia mais fumar ou conviver em ambientes enfumaçados o que era muito bom para minha saúde, até o cheiro de peido (dos outros) devia evitar, então, por que lamentar tanto, se no balanço final os benefícios de longe superavam uma simples falta de ar?
Na verdade sempre consegui controlar os momentos de sufoco, ora com a bombinha de aerolyn, ora com uma boa nebulização, então passei a levar na esportiva e hoje em dia, por brincadeira, sempre que encontro uma “vítima” em potencial, relato meu caso, só para anotar mais uma simpatia para asma, pois quase todo mundo tem uma para dar e, eu que tenho uma coleção para zelar, catalogar por gênero de asco e espécie de esquisitice escuto atenciosamente a receita miraculosa. Se duvida de mim faça um teste, escolha a “vítima”, faça uma cara de sofreguidão e, com a cabeça baixa, tasque!: - “eu tenho asma!”.


Verão de MMVI