8 de out. de 2012


Bons Meninos e Capetas
Crie seus filhos para que sejam adultos que você gostaria de conhecer

Por Karen Springen
   Nancy Rodkin-Rotering sorri ao se lembrar de quando o filho de 4 anos, Jack, bateu a cabeça contra uma gaveta, com força suficiente para provocar um sangramento. Não é que ela tenha achado o machucado divertido, mas este teve um lado positivo: o choro de Jack fez com que o irmão de 2 anos, Andy, lhe oferecesse um copo d’água e seu livro favorito. “Quer o livro, Jack?,  perguntou ele.
   Nancy adorou o gesto de solidariedade de Andy. “fiquei emocionada ao ver uma criatura tão pequena pensar tão grande”, diz ela. “Ele ofereceu a Jack uma bebida e uma diversão, para distrair sua atenção da dor.”
   Todos os pais têm planos para seus filhos. Para muitos, porém, nada é mais importante do que educar uma criança “boa” – que saiba a diferença entre o certo e o errado, que tenha consideração com os outros e os trate como gostaria de ser tratada. No entanto, sendo a moralidade um traço de caráter impalpável, como podem os pais incuti-la nos filhos? “Para formar uma criança com valores morais é preciso ser uma pessoa com valores morais”, afirma o psicólogo David Elkind, da Tufts University. “Se você é honesto, franco, respeitável e atencioso, é isso que as crianças vão aprender.”
   No mundo apressado de hoje, em que os modelos inequívocos são poucos e os atos de violência cometidos por crianças estão em toda parte, educar os filhos dentro de valores morais ganha uma nova urgência. Esse tipo de moralidade, porém, não surge da noite para o dia; manifesta-se devagar, com o tempo.
   Os pais estão cada vez mais conscientes de que mesmo crianças muito pequenas têm capacidade de assimilar comportamentos morais. “Entre 1 e 2 anos, as crianças entendem que existem regras – mas normalmente só obedecem a elas quando há um adulto observando”, explica a Dra. Barbara Howard, especialista em desenvolvimento comportamental pediátrico da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins.
   Depois dos 2 anos, elas começam a obedecer às regras, ainda que de maneira inconstante, mesmo sem a presença de um adulto. E, como sabe qualquer um que tenha ultrapassado o limite de velocidade, as pessoas continuam a ter uma moralidade” circunstancial” pela vida afora.
   Os especialistas concordam que, para assumir responsabilidades, as crianças precisam ter consciência emocional e cognitiva do que é certo e do que é errado – em outras palavras, saber tanto na mente como no coração que o que fizeram é errado. Compreenda, no entanto, que, por mais que você tente, é impossível forçar seu filho a ter valores morais. Mas é possível encaminhá-lo na direção certa.
Defina seus valores. Que qualidades – como honestidade e empenho – são mais importantes para você? Então aja como gostaria que seus filhos agissem. “Se você faz trabalho voluntário na sua comunidade e leva seus filhos com você, eles vão fazer o mesmo”, afirma Joseph Hagan, da Academia Americana de Pediatria. “Se você der uma topada e soltar um palavrão, adivinhe o que seu filho vai dizer quando ele der uma topada?
Elogie o bom comportamento. “Realce os comportamentos desejados”, sugere a psicóloga Kori Skidmore. “Em vez de criticar uma criança pequena por causa da desordem do quarto, elogie o canto que estiver arrumado”, recomenda o pediatra Garry Gardner, de Darien, Ilinois. Lembre-se: seja criterioso ao usar o não.
Aproveite os momentos que podem ensinar lições. Quando os filhos de Gardner tinham 3 e 4 anos, eles acharam uma nota de 10 dólares na porta de uma loja. Gardner conversou sobre o valor do dinheiro – e eles concordaram em entregá-lo ao dono da loja para o caso de alguém procurar a nota. Decidiram juntos que o princípio de que “achado não é roubado” não deveria ser aplicado a valores maiores do que 25 centavos. Os pais também podem usar fábulas famosas ou histórias da Bíblia para ilustrar um ponto.
Observe os programas a que seu filho assiste. “Se as crianças ficam desacompanhadas, assistindo a programas de violência e promiscuidade na televisão, estarão mais propensas a ter opiniões equivocadas sobre como tratar as pessoas”, ensina Karen Bohlin, diretora do Centro de Desenvolvimento de Ética e Caráter da Universidade de Boston. “As crianças são impulsivas e precisam de orientação para formar bons hábitos”.
Fale sobre as consequências. Os pais podem pedir às crianças que os ajudem a escolher punições justas – por exemplo, não assistir à televisão. “Elas aprendem que sua voz é valorizada”, diz Marvin Berkowitz, professor de educação do caráter da Universidade de Missouri, em St. Louis. Permitir que os pequenos façam escolhas – mesmo a respeito de algo trivial como o que comer no almoço – vai habilitá-los a fazer escolhas morais mais tarde.”Se não aprenderem com requeijão e geleia aos 2 anos, como vão tomar decisões sobre bebidas alcoólicas aos 14?, pergunta a médica de família Nancy Dickey, editora-chefe do Medem, centro de informações a pacientes on-line.
Ajude-os a enxergar de outro ponto de vista. Se uma criança bate no novo irmãozinho, tente lhe mostrar o ponto de vista do recém-nascido. Diga: “Minha nossa, isso deve doer! O que você acharia se fizessem isso com você?”, sugere Barbara Howard, da Johns Hopkins. Ou quando a criança encontrar um ursinho, por exemplo, pergunte-lhe se ficaria triste se perdesse seu bichinho de pelúcia favorito e se ficaria contente se alguém o devolvesse. Existe muita diferença entre ouvir no catecismo que devemos amar o próximo como a nós mesmos e agir dessa forma.
   Enfim, qual é o verdadeiro teste dos valores morais de uma criança? É como a pessoa age quando mamãe e papai não estão por perto.
Fonte: SPRINGEN, Karen, Revista Seleções, Ed. Reader’s Digest, 2002.